10 maio 2010

Burocratização da vida "normal"

A primeira vez que chamei um táxi depois da meia-noite e a telefonista me atendeu com um convicto “bom dia!”, fiquei perplexa. Desde os 3 anos de idade, se não me engano, tinha cá pra mim como uma verdade incontestável que dia é quando esta claro, e noite é quando esta escuro, certo? Bem, segundo a moça do táxi, não. Cheguei a olhar para o relógio para ver se a s horas passaram sem que eu percebesse. Negativo, os ponteiros marcavam 1h30 AM. Olhei então pela janela: vai ver algum fenômeno meteorológico, por causa do buraco da camada de ozônio ou da emissão de gases na produção de chicletes de titti-frutti, o nascer do sol tivesse se adiantado em... 5 horas?! Também não: lá fora o céu continuava escuro como o cabelo da Branca de Neve. Porque diabos, então, a moça do radio-taxi havia me dado o bom dia? Quando ligo para algum amigo no trabalho a moça pergunta “Juliana de onde”? Nunca sei o que dizer. Dependendo do amigo, o mais correto seria: “De onde? Ah, diga que é a Ju do jardim, eu emprestava minha pá pra ele no tanque de areia”. Poderia também encarar a pergunta de outra forma e dizer: “Juliana de Porto Alegre, RS”. Quem sabe, talvez, a questão fosse muito mais simples e pudesse me sair de forma mais prosaica: “Da cozinha, querida. Agora da sala, indo pro quarto... È que a gente comprou um telefone sem fio, sabe?” As duas situações me parecem fruto de uma mesma semente: a burocratização da vida. Bureau significa escritório, em francês. Burocratizar a vida é, portanto, algo como “escritoriza-la”. È submeter o cotidiano ás mesmas regras que organiza uma firma: encarar os fatos como planejamento, arrumar tudo em fichários, liberar só com carimbos e tentar ser o mais eficiente possível. (Ah, eficiência! Quantos crimes já não cometeram em seu nome?!!!). Acreditar que depois da meia noite já é manhã é um procedimento burocrático, necessário para o bom funcionamento dos negócios bancários, o planejamento das companhias aéreas e a precisão das multas de trânsito. Para a maioria de nós, no entanto, mortais não fardados nem fadados a encarar o mundo como tarefa administrativa, a coisa parece meio esquisita. Da mesma forma, quando alguém pergunta “Juliana de onde”?”, podemos subentender “ Juliana de que empresa?” Como se todas as pessoas fossem, antes de serem amigas, primas, irmãs ou namoradas umas das outras, empregadas de alguma firma. O trabalho vem antes de tudo. Tanto em uma quanto em outra situação, a intenção das pessoas do outro lado da linha é, conseguindo mais eficiência, melhorar a produção e expandir seus negócios. Nem que para isso tenham que trocar a noite pelo dia e pôr o mundo de pernas pro ar. Time is Money, ééé, e Money, assim como tempo, não gasta por ai passeando, telefonando para fofocar nem lendo bobagens tão pouco edificantes como essas aqui. Será? “Quem faz um poema abre uma janela.” Sejam Felizes!! bjometwitta @Jumktmartins

Um comentário:

  1. Chê, muito bom ler teus textos, investe nisso!!
    Pior mesmo, teve uma época que tinha de visitar empresas na madrugada, e é fato, passou da meia-noite o pessoal já dava bom dia mesmo. Não entendia bem, mas respondia!
    bj, sdd

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