“Amor dá um trabalho danado, mas quem tem um não quer largar”
Taxista bom é o seu Abelardo. A gente paga a corrida e leva grátis meia hora de sabedoria. Deve ser alguma promoção. Ele fala de todos os assuntos e defende teses bem originais. Acha, por exemplo, que os atentados de 11 de setembro não existiram. “Tudo efeito especial. Hollywood. Espilba, como é que chama aquele diretor? Esses americanos são fogo! Ou tu acha que neguinho ia ser idiota de meter avião dentro dum prédio, como ele dentro? Quando tu for ver de novo, repara bem: efeito especial.”
Na ultima quarta, ele tava especialmente inspirado. Quando eu disse que ia pra casa do meu namorado, ele olhou pra mim como profunda compaixão e soltou: “Não faz isso não!” Isso o quê, seu Abelardo? Seu Abelardo respirou fundo. “Olha esse negócio de amor é um problema. Atrapalha a vida da gente. O que eu tenho de amigo que já e ferrou por causa do danado.” Que danado, seu Abelardo? “Como que danado, guria? Presta a atenção! O Amor! Amor nunca dá certo. É saudade, é briga, é desolação. É só tristeza.” Tentei argumentar: mas seu Abelardo, olha só, eu amo, eu sou feliz! Seu Abelardo não deu a menor bola. “Tu ainda é jovem, minha cara, não sabe de nada... Outro dia mesmo eu acordei às 4 da madrugada com corno gritando embaixo da minha janela: ‘Eu te amo Amália! Volta pra mim Amália! ’ Coitado. É o amor. E tu achas que a Amália voltou? Nada. Já tá até com outro. E depois dá um pé na bunda dele ou ele na bunda dela e sofrem os dois. E pra quê? Eu te pergunto: Pra quê?
Será mesmo seu Abelardo? Eu, quando to com meu amor, fico toda feliz. A vida parece tão simples. “Viu só? E esse tempo todo, tu podia tá estudando, trabalhando, juntando dinheiro. Tem casa própria?”. Não tenho, não, seu Abelardo. “Não tem nem casa, e fica perdendo tempo ai de nheenhem com o namorado? Que desperdício. E depois ele te larga, tu vai ficar por ai sofrendo, não diz que eu não te avisei.” Não larga, não seu Abelardo! Ele me ama! E se largar, eu sofro, eu choro, ouço um samba triste e depois passa, a gente sobrevive. “Nem sempre minha jovem, nem sempre! O que tem de dor de cotovelo aí que toma formicida pula da ponte, se joga no trilho do trem, é um problema.”
Eu já tava quase sugerindo que ele ligasse o rádio e ficasse quieto quando finalmente chegamos na rua do amor. Ele olhou pra trás, sério: “Tem certeza que vai descer ai?” Tenho. “se quiser eu te levo de volta e não cobro a corrida.” Deixa disso, seu Abelardo. Quanto foi? “23 Reais.” Paguei. No que ele foi pegar ao dinheiro, vi a aliança em seu dedo. Mas, seu Abelardo! O senhor é casado?! “Sou!” E ama a sua mulher? “Claro. Ou tu acha que eu aprendi essas coisas todas onde?! No rádio?! Foge do amor, minha jovem! Foge enquanto é tempo!”
Tchau, seu Abelardo!
Sejam Felizes!!
bjometwitta @Jumktmartins
Isso é um filósofo disfarçado de taxista, fazendo estudo de campo com seus supostos passageiros!!! É um oráculo!!!
ResponderExcluirbj, sdd